A moda e o mundo digital

Uns dias atrás eu falei aqui no blog sobre a primeira semana de alta costura PFW, que aconteceu no formato digital, assim como a semana masculina de Paris e algumas outras cidades que também se adaptaram para esse formato.  Isso tudo ocorreu devido à pandemia, que resultou em um processo de aceleração em diversas tendências […]

Publicado 20 de agosto de 2020

Uns dias atrás eu falei aqui no blog sobre a primeira semana de alta costura PFW, que aconteceu no formato digital, assim como a semana masculina de Paris e algumas outras cidades que também se adaptaram para esse formato. 

Isso tudo ocorreu devido à pandemia, que resultou em um processo de aceleração em diversas tendências digitais que vem acontecendo há algum tempo, então resolvi destacar alguns deles aqui.

A quarentena voltou boa parte da população para seus dispositivos, e essa interação do digital com o físico (phygital) tem se tornado algo mais natural. Cursos, atividades físicas, shows em jogos e aplicativos, etc, tudo isso vai se tornando algo muito mais normal em nosso cotidiano e isso faz com que as relações digitais sejam tão relevantes ou aceitas como as físicas. 

Claro que cada um tem o seu tempo de aceitação e adaptação para essas “modernidades”, mas é uma realidade pela qual todos nós vamos passar. Quer exemplos? O estilista Dudu Bertholini realizou seu casamento via “zoom”, jogadores do Animal Crossing também presenciaram casamentos e enterros que não aconteceram fisicamente, pelo risco de contágio pelo vírus, e talvez você conheça alguém que participou de algum show no jogo fortnite, né?

Essa “naturalização” dos comportamentos online nos leva ao assunto que queria chegar: a moda digital. Começando pelos influenciadores digitais, LITERALMENTE, esse fenômeno começou muito forte no japão e youtube, com uma estética bem de mangá mesmo, e agora vemos alguns personagens no instagram com diversas estéticas, da mais realista até a mais caricata. 

Acho que a mais conhecida é a @noonoouri, que já saiu na capa da vogue brasil e até foi jurada do making the cut, reality da amazon prime. Mas quem começou essa onda na plataforma do instagram foi a @lilmiquela: ela tem uma estética mais real e, por muito tempo, foi questionado se ela era digital ou não. As duas são super fashionistas e ativistas e, assim como elas, existem outros perfis como a @bermudaisbae, que é amiga da Miquela.

Eu sigo também um perfil chamado @bee_nfluncer, que é uma abelha influencer. O perfil foi criado na intenção de levantar a questão da extinção das abelhas e, com os seguidores e campanhas que ela consegue, o dinheiro é revertido para uma ONG da causa. 

A @shudu.gram também entrou para o Instagram como uma modelo virtual e hoje seu criador tem uma agência só para modelos digitais, a @thediigitals

Na minha visão, o que une todas elas é a possibilidade de vestir o que for preciso, no cenário desejado, na hora desejada para as marcas que contratam seus serviços (seus programadores).

E essas roupas digitais têm sido um recurso para muitos No começo da quarentena, nós vimos o vídeo viral da marca Hanifa, da República Democrática do Congo, que fez um desfile 100% digital. Isso acontece graças a softwares como o clo.3d e já existem agências voltadas só para essa experiência digital, como a @the_fab_ric_ant que também teve destaque nas mídias por vender um vestido digital para uma mulher que pagou 7,5 mil dólares por um vestido feito por eles, só pra colocar no corpo dela digitalmente (inclusive tem perfis no insta que estão oferecendo o serviço de colocar em você em algum look que você goste). 

E são muitas as marcas que já abraçaram esse universo. Balmain, Nike, Oscar de la Renta, entre outros. A Zara mesmo, recentemente, liberou o preview da sua nova coleção e, junto com as fotos de modelos, encontramos as roupas digitalizadas para identificar o caimento e tecido da peça (isso hoje pode ser só um complemento, mas se no futuro fast fashions ainda existirem, pode se tornar um recurso para não fotografar pessoas e roupas fisicamente e cortar gastos)

Bom, e no Brasil? Começando pelos influencers digitais, nós não podemos esquecer da Magalu, talvez a primeira a quebrar essa barreira digital. A AMARO também tem a Mara, que foi criada há pouco tempo, com a estética mais realista para as fotos de looks, agora participando também do jogo Animal Crossing, onde as pessoas mostram suas criações no mundo virtual para o perfil da AMARO, e dali vão sair 15 peças para o mundo real. Para quem quiser acompanhar, o perfil é @amarocrosscollection. 

A marca @ntxlvl também anunciou um digital room para seus lojistas, em que a capa da chamada é um vestido digital, embora ainda não se saiba até onde eles vão utilizar o lado digital.

Essa tendência vem para o bem, pois o processo de criação e aprovação de peças gera um gasto menor, financeira e ambientalmente falando. Mas também surge pela necessidade de ter e ostentar: as pessoas recorrem a uma modificação digital para ter a roupa perfeita, no cenário perfeito. 

No entanto, tudo isso abre espaço para uma importante reflexão: como a indústria da moda é denunciada por seus padrões de beleza quase impossíveis, a adição de modelos digitais projetadas com recursos perfeitos e proporções inatingíveis não elevaria ainda mais esses padrões?

Ingrid Finger, para Gold Finger

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